Carnaval de Porto Alegre em 1911

Carnaval!

É a alegria que chega, numa franca e álacre gargalhada atirando para longe as conveniências, rasgando a máscara da apocrisia, que durante 365 dias a humanidade afivela ao rosto, para se fingir sisuda e bem comportada, e ei-la atirando ao ar os guizos do epigrama.


Só para rir e cantar
Haja riso! Haja prazer! Soltem-se os diques da loucura e em cada olhar brilha o contentamento de viver numa explosão frenética de gozo!
De parte, toda a filosofia pessimista da vida e nada de lamurias, que estes três dias são só para rir e para cantar.
Não é muito que se tenham estas horas de verdadeira expansão jocunda, após tantos dias de labor penoso.


Carnaval!
As ruas enchem-se de uma multidão ávida de se divertir e de cada canto parte uma exclamação de jubilo, um grito de alma desafogada, expandindo-se galhofeiramente.
Os olhos das mulheres brilham com mais fogo e as suas faces avermelham-se na coloração radiante da felicidade satisfeita.
Porto Alegre acompanha, galhardamente, as grandes cidades nestes três dias de folguedo.

Tumulto alegre
As ruas ai estão pejadas de povo, cheias de um tumulto alegre e cruzadas em todas as direções, por dezenas de carros conduzindo a beleza fascinante das nossas patrícias.
As sociedades carnavalescas farão desfilar os seus préstitos sumptuosos, transbordantes de graça e de riqueza n''um deslumbramento feérico.

Não faltarão palmas e bravos retumbantes para os Venezianos, Esmeraldinos, Fidalgos, Tenentes do Diabo, Saca Rolhas e tantas outras sociedades que hão de percorrer as nossas ruas.
Os salões sociais abrem-se, iluminados, ornamentam-se vistosamente para bailes deslumbrantes.
Ontem, á noite, já era grande a massa popular que se premia na rua dos Andradas e na praça senador Florêncio, festejando a entrada do Deus Momo.

Defronte as vitrinas, onde estão expostos os retratos das rainhas das sociedades carnavalescas, o povo aglomerava-se, havendo frases de entusiasmo e de partidarismo exaltado, por esta ou por aquela sociedade.

Elegância no Clube do Comércio
O baile chino-japonês, realizado pelo Clube do Comércio, foi um legítimo e inesquecível triunfo.

Em frente ao edifício do club, compacta multidão admirava o efeito da iluminação externa e interna e assistia a chegada dos convidados.
De cada carro saltavam senhoras trajando á japonesa, num luxo e num bom gosto surpreendentes.
A qualidade da assimilação, que é o apanagio da nossa raça, revelava-se deslumbrantemente nas elegantes patrícias que ontem compareceram á brilhante festa.

Os trajes japoneses ficavam-lhes admiravelmente bem e era um encanto vê-las ostentando os kimonos.
Com tal início, é de esperar que o carnaval, este ano, seja, entre nós, uma festa maravilhosa.
São esses os nossos votos.

Viva o Carnaval! Viva a Alegria!.

Jornal Correio do Povo, 28 de fevereiro de 1911