Celina Prestes, rainha do Petit Momo. |
A tarde também passou um original préstito infantil, organizado pelo conhecido pintor e cenógrafo Alfredo Tubino, tendo a frente o estandarte com a denominação de Petit Momo, empunhado por um menino fantasiado.Um cavalo montado por um palhaço puxava todo o préstito de pequenos carros alegóricos de rodas de madeira ligados uns aos outros por cordas, como se fora um comboio de via férrea... (A Federação, Porto Alegre,13/02/1907, p.2).
Descrevendo o carnaval de 1907, ano que também seria marcado pelos primeiros desfiles após o renascimento das tradicionais sociedades carnavalescas, Esmeralda e Venezianos, o jornal A Federação destacava a presença da Petit Momo e a originalidade de Alfredo Tubino em organizar um préstito infantil.
Nascido em Porto Alegre, em 1870, Alfredo Tubino era filho de João Batista Tubino e Maria José Ribeiro. Casado com Inês Gonçalves, por aqueles tempos já era pai de 5 crianças (que tinham entre 1 e 12 anos de idade) e participou do movimento de reerguimento da sociedade carnavalesca Esmeralda, trabalhando junto a seu aprendiz Arthur da Silva na confecção dos carros alegóricos da referida agremiação (A Federação, Porto Alegre, 13/02/1907, p.1). Foi talvez aí que tenha surgido a ideia de criar um grupo carnavalesco que seguisse os mesmos moldes das grandes sociedades carnavalescas (préstitos com carros alegóricos que desfilassem pelas ruas da cidade, carros de crítica, Zé Pereira, rainhas da agremiação, bailes de gala e burlesco), mas que fosse específico para as crianças, nascia a Petit Momo!
Saindo de sua caverna, localizada a Rua 24 de maio (atual General Caldwell), no bairro Menino Deus, o préstito de 1908 percorreu as ruas da Azenha, Venâncio Aires, João Alfredo até chegar ao centro da cidade, onde passava pela Coronel Genuíno, Demétrio Ribeiro, General Canabarro, Pantaleão Telles, General Salustiano, Andradas, Dr. Flores, Voluntários da Pátria, Marechal Floriano, Andradas até a chefatura de polícia. Regressando pela mesma rua, dirigia-se para a Marechal Floriano, Duque de Caxias, praça General Marquês, Campos da Redenção, Azenha, até voltar à 24 de maio (A Federação, Porto Alegre, 29/02/1908, p.2).
Embora tenha sido muito elogiada, por seu “originalíssimo préstito [que] tanta sorte deu no ano passado” (A Federação, Porto Alegre, 10/01/1908, p.2), nos preparativos para seu segundo carnaval o jornal A Federação condenava a ideia de apresentar um carro de crítica “denominado Gruta dos Miseráveis, contra as pessoas que se recusaram concorrer com donativo pecuniários para o negocio do Sr. Tubino”. De acordo com o periódico:
De certo que pobres crianças não teriam a ideia da confecção de semelhante critica, e por isso esperamos que a polícia saberá em tempo oportuno tomar o devido conhecimento sobre a conveniência ou não de tal exibição, para que não ultrapasse os limites do devido comedimento. Seguramente os pais dos meninos do Petit Momo não concordarão com semelhante expediente de chantagem (A Federação, Porto Alegre, 29/02/ 1908, p.2).
Se houve a intervenção da polícia ou não, não sabemos, mas, ao que parece, a proposta do referido carro de crítica acabou não se concretizando e dias depois o mesmo periódico noticiava que o préstito da agremiação muito agradara a população porto-alegrense: “Era um extenso préstito, formado de pequenos carros alegóricos, todos conduzindo crianças, algumas das quais apenas com dois anos de idade”. Entre os carros alegóricos, destacava as “homenagens ao Carnaval, à República, Cabana do pai Thomaz, Gôndola Chinesa, Zé Pereira e muitos outros bem organizados, entre os quais o da rainha, a menina Aracy Costa” (A Federação, Porto Alegre, 02/03/1908, p.2). Sublinha-se que além dela, Julieta Xavier dos Anjos, Mariana da Silva Gesta, Celina Prestes, Celestina Guimarães e Armandina Ferreira de Oliveira também figuraram como soberanas nos carnavais de 1909, 1911, 1914, 1915 e 1916, respectivamente.
Adquirindo grande popularidade como o passar dos anos, a Petit Momo se destacava por seu “cunho de originalidade”, em função de todos os figurantes de suas alegorias serem crianças: “Ainda ontem se acentuou esse cunho e tão fortemente a passagem de alguns carros fantasias que se tinha a impressão de que as criancinhas neles ostentadas tinham sido transladadas dos seus berços para aquelas altitudes de rainha, aviadores, príncipes, etc”, salientava o A Federação (Porto Alegre, 19/02/1912, p.2). Descrevendo o préstito no carnaval de 1912, o referido jornal também elogiava a apresentação da Petit Momo e, sobretudo, o trabalho desenvolvido por Alfredo Tubino:
E dizer-se que todo aquele extenso e trabalhado préstito é trabalho – exaustivo trabalho esse! – de um só homem: o cenógrafo Alfredo Tubino!Apenas com umas centenas de mil réis realiza ele tudo aquilo, que constitui, de resto, de algum tempo a esta parte, a única vibrante nota do domingo de carnaval! (A Federação, 19/02/1912, p.2).
Deu ontem [segunda-feira de carnaval], a nota na rua dos Andradas, o Petit Momo, com seu teatrinho de fantoches, dirigido pelo hábil cenógrafo Alfredo Tubino.Em frente à Federação foi dado um espetáculo, com grande assistência do povo.O teatrinho foi acompanhado pela banda de música Lyra Oriental (A Federação, Porto Alegre, 26/01/1909, p.2).
Ainda que Alfredo Tubino tenha exercido grande liderança na Petit Momo, sua família também parece ter comprado a ideia da original proposta carnavalesca e com ele levado a cabo o carnaval da petizada. Seu irmão, Fulvio Tubino, foi o presidente da agremiação, em 1908, enquanto seus filhos Alfredo Tubino Filho e Euclides G. Tubino, em 1915 assumiram a direção, diante da enfermidade de seu pai, presidente da agremiação.
Reconhecendo não só talento de Alfredo Tubino, mas seu trabalho à frente da Petit Momo ao longo dos anos, o jornal A Federação afirmava ser ele “um cidadão benemérito, digno de uma comenda ... de Momo!” Tal manifestação elogiosa girava em torno dos esforço de Tubino para a saída da petizada no carnaval de 1916. Segundo o jornal:
Ele disse: Saiba moçada que o Petit há de sair, quer queiram, quer não queiram!Vai então a gurizada se alvoroutou-se, assanhou-se mesmo e agora não larga o coitado do Tubino.É uma amolação dos diabos!O Tubino se vê tonto para contentar a tanta gente.Mas, popular e estimado como é, ele saberá fazer a cousa de modo a satisfazer a tutti quanti e... o Petit sairá, quer queiram, quer não queiram.Os senhores hão de ver (A Federação, Porto Alegre, 22/02/1916, p.3).
E não é que a Petit Momo de fato ganharia as ruas naquele que, ao que parece, foi seu último carnaval. Qualificado pelo jornal O Exemplo como um dos primeiros com sua exibição, teria excedido a expectativa geral. Apresentando “nove carros de alegorias e críticos, todos aprontados com irrepreensível bom gosto”, o periódico destacava os carros “Mata Inveja” e “Pérola”, salientando que a “criançada do Petit e o seu diretor, o cenógrafo Alfredo Tubino, receberam muitos cumprimentos” (O Exemplo, porto Alegre, 12/03/1916, p.1).