Começamos com um fragmento saboroso do Jornal do Commercio, publicado em 1882, que retrata com humor e ironia as loucuras do entrudo na Rua da Praia. O texto, em forma de folhetim, dá voz a um “folgazão que gosta de brincar, de bisnagar, mas que foge das meninas que é um gosto!” — personagem anônimo, mas bem conhecido dos leitores da época.
Me larguem; seu Mingote não me bisnague assim!...Ah, está me entrando pelo ouvido!...Não me pise...Anda, bem feito!...Estou toda molhada...
Essas exclamações, segundo o cronista, “rebentam da onda elegante que se entrega à noite às loucuras do entrudo”. Moças e rapazes se chocam nos salões e nas ruas, enquanto “os velhos sentem-se rejuvenescidos” e empunham bisnagas como se fossem troféus. “A bisnaga é a palavra da atualidade... Janta-se, almoça-se, ceia-se e dorme-se com a bisnaga na mão ou na boca.”
O episódio narrado — em que dois primos se bisnagavam “como dois desesperados” e acabaram no chão, talvez trocando um beijo — revela o espírito irreverente do Carnaval oitocentista, marcado pela mistura entre o refinamento burguês e a espontaneidade popular.
Ao longo desta seção, seguiremos explorando outras cenas do Carnaval porto-alegrense, com o objetivo de compreender como a festa se inscreve na história da cidade, atravessando costumes, disputas simbólicas e transformações culturais.
📚 Para mais Cenas do Carnaval, acompanhe as próximas postagens e mergulhe conosco nessa folia documentada.
