Para abrirmos o ano de 2014,
criamos uma nova seção em A Entrudeira: “Cenas do Carnaval”. Publicaremos trechos
de documentos a respeito do carnaval de Porto Alegre. Para começar, escolhemos
um fragmento do Jornal do Comércio sobre
o carnaval de 1882, era o entrudo tomando conta dos festejos na capital do Rio Grande do Sul:
" Seu Mingote não me bisnague assim"
E como não esteja concluindo
o folhetim, cedo a palavra ao meu amigo das
bisnagas, um certo folgazão que gosta de brincar, de bisnagar, mas que foge
das meninas que é um gosto! Porto Alegre bem o conhece... e por isso eu não lhe
digo quem é...
Ei-lo que chega! Tome a
pena, meu amigo. Assente-se aqui. Converse com as leitoras e depois não vá
dizer-lhes que o estilo não é seu...
-Me larguem; seu Mingote não
me bisnague assim!...
-Ah, está me entrando pelo
ouvido!...
-Não me pise...
Anda, bem feito!...
-Não me aperte o braço...
-Ai, ai!...Quase que torci o
pé...
Estou toda molhada...
Seu Pinto, me deixe...
Eu não posso mais...
Não me belisque assim...
-Não seja atrevido...
São estas as exclamações que
rebentão da onda elegante que se entrega á noite ás loucuras do entrudo na Rua
da Praia.
Aqui e acolá os grupos de
moças e rapazes se chocam; os velhos sentem-se rejuvenescidos... Não há um só
deles que não ande com duas ou três bisnagas... Uma só não os satisfaz...
A bisnaga é a palavra da
atualidade... Janta-se, almoça-se, ceia-se e dorme-se com a bisnaga na mão ou
na boca.
A bisnaga é a preocupação da
cidade.
Anteontem ainda encontrei
dois primos que se bisnagavam como dois desesperados...
-Não me molhe assim,
primo...
-Não me provocou...
Agüente-se
-Ai! Primo, não me agarre
assim pela cintura...
-Deixe estar... eu não lhe
piso...
E nisto o primo escorregou sobre
a prima e ambos foram ao chão. Pareceu-me ouvir o frêmito de um beijo, talvez
não fosse, mas o que é exato é que se não foi um beijo, foi uma bicota...
Para mais Cenas do Carnaval!