Começaram, ontem, as festas populares do carnaval em Porto Alegre. E bem populares que elas são.
A crônica destaca o caráter democrático da festa, que nivelava “todas as camadas sociais, pela máscara e pelo dominó”. Mesmo diante das dificuldades econômicas e sociais da época, o Carnaval resistia como espaço de suspensão das preocupações cotidianas. Como afirma o jornalista:
Pensava-se que [...] tivéssemos um carnaval descolorido, pálido, mal enjambrado; e, no contrário disso, o que se viu [...] foi o mesmo prazer estonteante de sempre.
A Rua dos Andradas, tradicional palco da folia porto-alegrense, transformava-se em “campo de batalha dos apologistas de Momo”, reunindo multidões que zombavam do calor e da ameaça de chuva. À noite, a iluminação especial instalada pela Intendência Municipal conferia à rua uma “feição deslumbrante”, e o jogo do lança-perfume tomava proporções gigantescas:
Moços, velhos, crianças de todas as condições manejavam a pequena alavanca dos tubosinhos do volátil perfume, com o mesmo brio e com o mesmo entusiasmo.
A matéria também reflete sobre o sentido simbólico do Carnaval como intervalo luminoso na dureza da vida moderna:
Os três dias de carnaval aparecem no céu negro da luta como uma clareira da luz e frescura, que se deve aproveitar com frescura.
Esse testemunho de 1914 revela como o Carnaval de Porto Alegre já se consolidava como ritual coletivo, espaço de expressão popular e espetáculo urbano. A adesão das sociedades carnavalescas, o envolvimento do “belo sexo” nos bailes e préstitos, e o engajamento da população nas ruas mostram que a festa era, então como hoje, um patrimônio cultural vivo.
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