Baile de Carnaval,
1930. Bigio Gerardenghi (Itália, 1876 -Brasil, 1957).Óleo sobre tela, 54 x 75
cm.
|
I
Raiou o dia de sexta-feira, ante véspera
de Domingo gordo. A corte andava em um reboliço infernal.
Máscaras em todas as partes; bigodes em
todas as esquinas; barbas penduradas a todas as tabuletas.
Entre as senhoras o tumulto tomava o
aspecto de uma revolução em Hespanha.
- Como será? Perguntavam amigas a
amigas.
- O Tavareszinho vai! Eu já vi o
figurino! A roupa é feita na Gudin!
- Seu eu fosse homem eu ia!
- E eu também de diabo até!
- Cruz, Emilinha! De Diabo? Estás doida?
- Ora, o que tem? O bonito nesses dias é
a gente ficar feia!
- O Souza me disse que há não sei que
sociedade muito rica.
- De que ele é sócio, aposto!
- É!
- Aquilo é uma pachola ás direitas!
- Vou ver se titio aluga camarote no
teatro!
- Não tens medo?
- Que pergunta tola!
- Nada, minha cara, na rua dos Ourives há
umas máscaras de arrepiar o cabelo.
- Pouco se me dá! Se eu sei que aquilo
tudo é postiço!
- Se papai levar-me, que gosto!
- Havemos de conversar muito , sim?!
- Escuta um segredo: - O Alberto irá?!
- Maliciosa! Parece que vai vestido de conde
francês!
- Parabéns então se tu fores!
- Adeus!
- Adeus!
Às duas horas e meia batiam palmas à
porta da casa de Nunes, o Nunes que já o leitor conhece.
Nunes não estava em casa, nem era hora
disso.
A escrava anunciou à senhora que vinha
fazer-lhe uma visita o seu sobrinho Gastão de tal Pacheco!
D. Gertrudes, matrona de olhos negros e
lábios maliciosos, olhou para a filha, uma Aninha maravilhosa de alvura e
faceirice, como esperando da donzelinha a espada de Alexandre que cortasse o nó
górdio iminente.
- Papai não chega senão às quatro horas.
Mande entrar, mamãe!
- Filha! Filha!
- Mande entrar, gente!
Gastão de tal Pacheco entrou. Trazia
luvas cor de pinhão e cabelo frisado Augusto Claude.
Tresandava a patchouli que era um
desgalo.
Mercantil, 02 de março de 1878.
Para outras Cenas do Carnaval!