IV
Nunes pregou durante uma semana inteira
um sermão enorme contra o carnaval.
- E tome tento, senhora. Nem à janela me
chegue com a menina. Há melhores divertimentos nesse mundo. Leia o Simão de
Nantua, por exemplo. Diabo leve os máscaras todos um por um e o chefe de
polícia.
Quando no sábado à noite e domingo pela
manhã Nunes recapitulou o aranzel mãe e filha miraram-se sorrindo intimamente.
Ah! Gastão! Gastão de Tal Pacheco! O que
fizeste!
V
No domingo gordo Nunes e Silva foram
passear juntos, braço aqui, braço acolá.
- Vamos ver essa balburdia!
- Homem, senhor Nunes, eu cuidei que a
coisa fosse pior!
- Por quê?
- Eh! Eh! Via passar há pouco um par de
pernas em um carro descoberto que...
- Ora Sr. Silva! Eh! Eh! Eh!
Crescia de minuto a minuto a turba dos
carnavalescos.
Mulheres de ombro nu e trança luxuriosa imponham-se
como visões orientais ao olhar pasmado dos dois barrigudos moralistas Silva e
Nunes, firma social de sensaboria eterna.
Uma vez Nunes apertou com força o braço
de Silva.
- Olhe ali, repare, repare. Que pernão!
Há de ser cômica!
- Dizem-me que o baile no S. Januario
hoje dever estar de trús!
- Acaba tarde como o demônio, hein?
- Mas a gente não fica até o fim. Vê e
sai.
- Ora... passou-me uma ideia agora pela cachimônia,
Silva... Eh! Eh!
- E a mim também, Nunes!
- Vamos ao baile? Perguntaram ambos ao
mesmo tempo.
- A Gertrudes falo-lhe, invento qualquer
mentirinha e... Eh! Eh!
- Convida-se o boticário?
- Vá feito! Mas...
- O que é?
- Ir-se assim de cara ao fersco, podem
reparar.
- Pois vestimos uma roupeta.
- Mão e se descobrirem?
- Nada de arrependimentos. Vestimos e
vamos sem falta, Nunes!
- Arranje lá a tal roupeta e não falamos
mais nisto.