Festas carnavalescas da elite de Porto Alegre: Evas e Marias nas redes do poder (1906-1914)

Fototeca Sioma Breitman, Museu Joaquim Felizardo.

Resumo: Esta tese procura investigar as transformações que ocorreram no carnaval de Porto Alegre durante o segundo ciclo (1906-1914) das sociedades carnavalescas Esmeralda e Venezianos, destacando as mudanças em relação à participação das mulheres no festejo. Evidenciaremos a presença de membros da elite política e militar no seio destas agremiações e sua possível influência nas alterações ocorridas. Mostraremos que as Evas darão lugar às Marias, na busca de uma construção de um carnaval distinto e do reforço das hierarquias dominantes do masculino.
No primeiro capítulo, fizemos uma breve análise da trajetória destas duas sociedades no carnaval porto-alegrense desde a sua fundação até seu renascimento, ressaltando os motivos pelos quais a imprensa e a elite da capital defendiam a necessidade de uma transformação dos festejos: a erradicação do entrudo e a moralização e a distinção do carnaval.
O segundo capítulo buscou avaliar as condutas e a participação feminina durante as comemorações, observando que, na segunda fase dessas sociedades, as mulheres passaram a ter uma exposição maior, participando da diretoria, organizando bailes e tendo um papel de destaque na figura das rainhas. Porém, este maior destaque estava condicionado a uma moralização de sua conduta. Percebemos, ainda, que a influência da participação de militares e membros do Partido Republicano Rio-Grandense sobre essas sociedades era marcante e que grande parte das mulheres que frequentavam as sociedades eram filhas desta elite da capital gaúcha, imbuída de preceitos ideológicos conservadores e moralizantes, estando, portanto, enredadas em meio às redes de poder político.
No último capítulo, foram estudadas as trajetórias de vida de algumas das rainhas das sociedades carnavalescas Esmeralda e Venezianos. Procuramos, por meio da análise destas trajetórias individuais, corroborar o que havíamos discutido anteriormente ao afirmar que a participação feminina no carnaval das sociedades estava permeada por relações políticas e de pertencimento aos quadros políticos e militares de Porto Alegre.
Enfim, buscamos analisar o carnaval sob a ótica de relações que se entrecruzam e que extrapolam o universo dos bailes e préstitos. Nestes festejos, as filhas da elite da capital podiam se divertir e se relacionar com jovens de boas famílias estando protegidas da virulência e da permissividade do entrudo. Era um carnaval de castas donzelas, moças de família, pois nas festas carnavalescas da elite de Porto Alegre as Evas de outrora tornaram-se as Marias.
Palavras-chave: carnaval; sociedades carnavalescas; gênero; Porto Alegre; positivismo.

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