Carnaval e negritude: a história da Sociedade Os Congos em Porto Alegre

Desfile das Sociedades Carnavalescas Esmeralda e  Os Congos em Porto Alegre, século XIX

A Sociedade Carnavalesca Os Congos constitui um exemplo relevante da atuação de sujeitos negros livres no espaço público urbano de Porto Alegre durante o século XIX. Fundada por homens negros, possivelmente, muitos deles libertos, essa agremiação carnavalesca se destacou por sua organização formal, por sua visibilidade nos festejos da cidade e por sua articulação com práticas culturais de matriz africana.

Carnaval de elite, presença negra

O carnaval porto-alegrense da segunda metade do século XIX era marcado pela presença de sociedades carnavalescas vinculadas às elites locais, com forte influência de modelos europeus de sociabilidade. Nesse contexto, a atuação dos Congos revela uma dinâmica de inserção e negociação simbólica por parte da população negra, que não apenas participou dos festejos, mas também construiu formas próprias de representação e celebração.

 Africanidade em cena

A Sociedade Carnavalesca Os Congos realizava cortejos e bailes que incorporavam elementos da cultura afro-brasileira, como a coroação simbólica de reis e rainhas do Congo, danças com nomes em línguas africanas e o uso de instrumentos musicais diversos. Essas práticas evidenciam a permanência de referências africanas no cotidiano dos sujeitos negros livres, mesmo em espaços marcados por normas de branquitude e distinção social.

Resistência em forma de cortejo

Além de sua dimensão festiva, a atuação dos Congos também se articulava a estratégias de solidariedade racial. Há registros de eventos promovidos pela sociedade com o objetivo de arrecadar fundos para a compra de alforrias, o que indica uma dimensão política e comunitária em sua organização. A presença da sociedade em espaços centrais da cidade e sua interlocução com autoridades locais também revelam formas de agência e reivindicação de pertencimento urbano por parte da população negra.

Por que lembrar dos Congos hoje?

A trajetória da Sociedade Carnavalesca Os Congos evidencia a atuação de sujeitos negros livres na construção de formas próprias de sociabilidade, identidade e resistência no espaço urbano de Porto Alegre. Sua presença no carnaval da elite desafia narrativas que invisibilizam a participação negra na formação da cidade e reforça a importância de recuperar essas memórias para compreender a história social brasileira.

Para saber mais 😉

LEAL, C. Sociedade Carnavalesca Os Congos: uma sociedade negra no carnaval de elite da Porto Alegre do século XIX. Acervo, [S. l.], v. 33, n. 1, p. 146–167, 2019. Disponível em: https://revista.arquivonacional.gov.br/index.php/revistaacervo/article/view/1520. Acesso em: 2 set. 2025.

📚 Acesse também a seção Escola - S.C. OS CONGOS


Post a Comment