Augusto Neves da Silva[1]
augustonev@gmail.com
Como todas as outras cidades Recife é
múltipla, plural e diversa. E entre estas várias construções possíveis para a
capital pernambucana, elegi para este trabalho a “Recife festiva”, a “Recife
carnavalesca”[2].
Com isso não quero afirmar que vou analisá-la de forma isolada, mas em vez
disso procuro levar em consideração a multiplicidade da invenção cotidiana, da qual
se alimentam as urbes, pois, como bem afirmou o historiador Antônio Paulo
Rezende ao propor o estudo da cidade do Recife, (REZENDE, 2002: 19): Nem tudo
pode ser esclarecido ou contado, descoberto ou revelado. [...] a construção da
história lida com limites, defronta-se com as armadilhas da memória, com as
tantas perdas materiais que evitam que certos acontecimentos sejam registrados,
com os conflitos políticos que criam versões que se chocam, confundindo e
provocando debates.
Assim, mediante esse cenário de exclusão, uma
pergunta pode se fazer: porque os historiadores brasileiros teriam/têm se
recusado a fazer da folia de momo um objeto de estudos? Diante da variedade de
documentação, provavelmente, como afirmou a historiadora Maria Clementina
Pereira Cunha, "parte da resposta esteja no fato de que a força do símbolo
perdure quase que indiscutivelmente por aqui, e muitos se acostumaram a julgar
que o carnaval, que está no 'sangue', dispensa o esforço de reflexão"
(CUNHA, 2001: 308). No entanto, as
festas são lugares possíveis de investigação histórica. Não só são campos de
lutas concretas entre grupos ou indivíduos, mas também são espaços de luta simbólica
(ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2011: 134-150). Como bem afirmou o historiador Durval
Muniz de Albuquerque Junior (2011: 148), “a festa é um acontecimento e, como tal,
ocorre a cada vez, por isso seu ser se diz na diferença e não na identidade e
na tradição”.
Diante dessa
perspectiva, o historiador deve pensar os significados e as mudanças das festas
em sua própria historicidade, bem como compreender “a dinâmica relação das
festas com as experiências dos homens e mulheres que as tornaram, em qualquer
época e local, autênticas e concorridas” (ABREU, 1999: 38).
Dessa forma, o artigo Carnaval do Recife: no
limiar da espetacularização versus participação (1972-2002) se propõe a ver a
festa carnavalesca como um espaço onde se exprimem as negociações, os
conflitos, os diálogos, as disputas entre os sujeitos sociais que se “digladiavam”,
não só em torno dos sentidos e significados a serem dados à festa, mas também
das práticas que a constituíram e dos códigos que a regeram, e que estabeleciam
assim as regras do que foi permitido ou mesmo excluído nos dias de folia da
capital pernambucana.
Dessa forma, procuro romper com as evidências
de que o carnaval em Recife já possui um sentido em si próprio, como um
fenômeno único, imutável e atemporal. Os dias de folia são frutos do seu tempo
e devem ser analisados levando em consideração as práticas que o constituíam
como um importante momento na vida social. " Deve-se estaratento às
múltiplas experiências construídas pelos foliões, ouvir os ecos dessa história
e assim ir em busca de outras sonoridades, que podem falar mais sobre essa festa
e das relações sociais que se teciam no seu interior" (CUNHA, 2001). E com
isso construir outros horizontes historiográficos em torno desse acontecimento.
O carnaval é uma festa que me atrai muito.
Fico encantado com a forma dos foliões se divertirem; suas expectativas para
que os dias de folia logo cheguem; suas frustrações e renovações em torno da
chegada de um novo reinado de momo. Recife é um espaço em que as representações
construídas a seu respeito definiram-no como possuidor de um dos mais atrativos
e populares[3]
carnavais do Brasil.
O carnaval figura como elemento integrante
daquilo que costumeiramente rotulou-se de cultura pernambucana. Os dias de
folia recifense são conhecidos também como uma festa marcadamente popular.
Pousa sobre parte da historiografia a respeito do tema a concepção de que a
popularidade é um elemento indissociável da festa carnavalesca.[4]
No entanto as festas são frutos de seu tempo,
pois, como bem destacou Michel de Vovelle, da mesma forma que não há “História
Imóvel, não há uma festa imóvel” (VOVELLE, 1991: 251). Assim procuro os
caminhos que levaram o carnaval em Recife a se tornar um dos símbolos da
cultura pernambucana e, ao mesmo tempo, como esse aspecto de popular foi sendo
(re) construído nesses anos. Interessam-me, nesses dias de folia, as lutas, os conflitos,
as disputas, as negociações que fizeram com que a imagem dessa festa como popular
pudesse emergir.
É importante salientar que o termo popular é
bastante recorrente quando se busca estudar o carnaval do Recife. Em diferentes
momentos encontra-se referência a ideia de um carnaval recifense atrelado a
concepção de popular.[5]
E este popular, com o
passar dos tempos, costumeiramente, assume feições diferentes uma das outras. O recorte temporal entre 1972 e 2002
justifica-se por, nesses anos, buscar-se (re) construir uma identidade do
carnaval recifense atrelado a imagem de uma festa popular. A volta ao carnaval
popular foi uma das metas dos indivíduos que dirigiam a festa momesca. Tenho
sensibilidade de compreender que não há um formato único do que seria esse
popular. O "ser popular" é
constantemente clamado, entretanto, em momentos diferentes assume feições
diversas. Assim sendo, é importante aqui compreender que formato de popular era
esse defendido entre os anos de 1972-2002.
Já durante a pesquisa de mestrado pude
visualizar que no ínterim entre 1972-2002 ocorreu uma das principais disputas
em torno de um modelo para a festa carnavalesca recifense. Os conflitos eram pautados em torno
dos embates entre os grupos que defendiam uma folia momesca baseada na espetacularização
versus os que preferiam um formato de festa baseado na participação. Era o famigerado
debate que os jornais locais nomearam das disputas entre a participação versus a
espetacularização.
As problematizações no que tange a essas
disputas começaram a ser pensadas já durante a pesquisa de mestrado, pois,
constantemente, despontavam, das matérias de jornais que consultava, indícios
que direcionavam o olhar do pesquisador para o fato de que o carnaval em Recife
deveria ter um sentido popular inerente à festa. Era como que o popular fosse
uma espécie de fenômeno natural do lugar, uma marca identitária do carnaval
local.
O carnaval em Recife era louvado pela crítica
especializada por ser o mais popular do Brasil. Esse título era motivo de
ostentação em muitas matérias dos jornais que circulavam pela capital
pernambucana. Estou ciente das dificuldades de se trabalhar com o termo popular,
mas acredito que as respostas para os significados construídos para o termo
devam ser buscadas na documentação a ser pesquisada e analisada. E pela
investigação que já realizei pude visualizar que essa construção, em torno da
ideia de popular, estava atrelada a três questões:
1__ O popular deveria
ser entendido como um aspecto inerente à festa recifense; era como se fosse
algo simbiótico à folia carnavalesca local.
2__ O carnaval em
Recife era popular porque tinha o poder de atrair pessoas para o festejo. Dito
de outra forma, era popular porque tinha uma grande atratividade sobre os
foliões.
3 __ Em Recife o
carnaval era popular porque os foliões podiam, nos dias de folia,“brincar alegremente”
nas ruas da capital pernambucana, sem distinção de classe social, cor de pele
ou sexualidade.
Tenho sensibilidade de que as três questões
apontadas acima são indícios da documentação, aquilo que está dado e
naturalizado. Entretanto, na investigação histórica, precisa-se diferenciar as
redes em que essas questões foram instituídas, reconstituir os fios que as
ligaram e que fizeram com que se engendrassem, umas a partir das outras. Por
meio da análise desses documentos busco rastrear a sua elaboração, os seus
recortes, as suas ordenações, suas ligações e seus pertencimentos. Compartilho
com Michel Foucault quando este afirma que “O documento, pois, não é mais para
a história, essa matéria inerte através da qual ela tenta reconstituir o que os
homens fizeram ou disseram [...] ela procura definir no próprio tecido
documental, unidades, conjuntos, séries, relações” (FOUCAULT: 2012, p. 08).
Acredito que diante do
processo de construção do carnaval popular do Recife entre os anos de 1972 e
2002 as políticas públicas exerceram papel preponderante na definição dos contornos
que a festa carnavalesca veio a seguir. Nesse período os dias de momo da
capital pernambucana passou por significativas mudanças, ocasionadas, entre
outras questões, pelo desejo do poder público de (re) organizar do festejo de
momo. Visto que Leis Municipais ─ como é o caso das Leis Nº. 10.537/72 e Nº.
13. 535/79 ─ procuravam dar uma (nova) feição a essa festa procurando assim
definir o seu formato pautado sobre a égide do popular. Formato este que será
modificado a partir dos anos de 2002 quando ocorre a gestão do Partido dos Trabalhadores
(PT), e com isso iniciou-se processo de construção do carnaval do Recife[6] como
uma festa multicultural6, é o denominado carnaval da multiculturalidade,[7]
por meio da Lei Nº. 16.784/02.
Na leitura de algumas matérias de jornais
desses anos (1972-2002), pude visualizar em muitas delas que a peculiaridade
popular da festa carnavalesca recifense, tão louvada em outros anos, estava
morrendo, e que as autoridades municipais deveriam intervir para ‘resgatar’ a
grandiosidade de outrora dos dias de folia da capital pernambucana. As matérias
dos periódicos sinalizavam que a festa de momo estava perdendo sua
atratividade. [8]
Diante disso, começam a ser discutidos nos
periódicos quais os motivos para tal fracasso. Um leque de questões passaram a ser
apontadas como os possíveis‘problemas’ para os insucessos dos dias de folia.
Estas iam desde a relação do carnaval com o poder público (oficialização e
dirigismo da festa), até as transformações ritualísticas e estéticas pelas
quais as agremiações passavam. No que
tange à relação do carnaval com a política[9],
inúmeros intelectuais[10]sinalizaram
em publicações nos jornais que a ‘oficialização’ da festa era um dos motivos
para a sua ‘decadência’. A respeito dessa questão o jornalista Paulo Viana[11]
expôs: “A experiência mostra que após 22 anos de oficialização o poder público
em nada contribuiu para melhorar o nosso carnaval”.[12]
É
possível visualizar com essas questões muitos conflitos em torno de uma prática
para os dias de folia em Recife. Muito mais do que consenso havia as disputas,
as lutas em torno do formato de festa que sairia ‘vencedor’ nesse debate. Os
contornos da folia momesca eram constantemente revistos, reordenados e reorganizados
por quem era responsável pela sua direção.
Em meio a essas discussões, a respeito dos
rumos que os dias de momo em Recife deveriam tomar, os representantes do poder
municipal determinaram em 1972 ─ por meio da Lei Nº. 10.537 ─ que os festejos
carnavalescos deveriam ter um sentido turístico. Assim sua organização passou
para a EMPETUR (Empresa de Turismo de Pernambuco). Um dos objetivos dessa
proposta era que a festa pudesse ser vendida (não só dentro como fora do Estado)
e com isso atraísse foliões de outras localidades.[13] E
a ideia de espetáculo[14]foi
escolhida para ser a ‘mola propulsora’ desse momento. Assim as bases para a
concepção de ‘carnaval espetáculo’ foram estabelecidas.
Nesse sentido, o carnaval em Recife na década
de 1970 deveria estar voltado à prática do espetáculo. Com isso, as
apresentações das agremiações nas passarelas ganharam mais visibilidade, o
controle do tempo de desfile dos grupos carnavalescos ficou mais rígido, houve uma
maior preocupação com o visual (qualidade) das fantasias. “Durante o carnaval espetáculo
as agremiações se preocupavam muito mais com as fantasias do que as músicas, e isso
enfraqueceu o frevo”.[15]
No limiar desse cenário emerge um debate dos
mais relevantes em torno de uma prática para a festa carnavalesca em Recife.
Espetáculo ou Participação?[16]
Na concepção de espetáculo, os seus opositores, salientavam que os súditos de
momo tornavam-se meramente espectadores, pois com a prática do espetáculo
associada à folia se consolidavam os cordões de isolamento, os horários de
apresentação das agremiações torna-se mais rígidos, o itinerário que cada uma
deveria seguir, e o crucial: o visual das agremiações torna-se central nas apresentações.
E para os defensores da ideia de participação, o carnaval era a festa da liberdade,
onde os foliões deveriam brincar alegremente, sem separação entre público brincante
e espectador, as agremiações apresentavam-se como "arrastão" saiam
dos bairros periféricos se dirigindo ao centro do Recife arrastando milhares de
foliões até a apresentação diante da comissão julgadora (SILVA, 1991).
Na base do carnaval espetáculo estavam as
escolas de samba e a passarela. Dois dos itens mais criticados, segundo as
matérias dos jornais, pelos defensores do tradicionalismo da festa carnavalesca
recifense. Acusavam a passarela de separar o público brincante do espectador, e
de tornar os foliões em meros espectadores, pois retirava dos súditos de momo, o
direito de participar da festa. Entretanto, sabe-se que do ponto de vista do
ritual o olhar espectador também é uma forma de participação.
Ao assumir a direção dos festejos momescos, a
Fundação de Cultura da Cidade do Recife, criada em 1979 em meio a esse debate
através da Lei Nº. 13. 535, ─ sob a presidência de Leonardo Dantas Silva[17] ─
procurou implantar o que denominou do ‘resgate’ à marca do carnaval local, ou
seja, seu aspecto popular, com o slogam: “nada de novo, tudo de novo”.[18]
Os representantes da
Fundação de Cultura procuravam (re) ordenar os festejos a momo, retirando tudo
o que acreditavam que estava ameaçando seu sucesso e introduzindo novos elementos
aos dias de folia.
Entre 1980 e 1983,
reinou no Recife o verdadeiro carnaval participação, com suas multidões
frevolentas se arrastando no acompanhamento da Frevioca e das agremiações
carnavalescas, a partir da segunda-feira da semana pré-carnavalesca e
explodindo na manhã do sábado com a saída do Clube de
Máscaras O Galo da
Madrugada, como a demonstrar aos descrentes e fracos de espírito que a Capital
do Frevo não carece de imitações e, muito menos, de importações outras. Os ritmos
criados pelo seu povo são o suficiente para a sua animação [...]. (SILVA, 2000:
300).
Nesse sentido, acredito que as políticas
culturais[19]
implementadas, emdiferentes momentos, pelo poder público municipal tiveram
papel preponderante neste cenário. As Leis e Decretos-Leis municipais
procuravam instalar uma prática para o carnaval da capital pernambucana nestes
anos (1972-2002), buscavam definir um formato (modelo) de festa.
Assim, faz-se relevante
historicizar e rastrear esses procedimentos, compreendendo os conflitos e as
tensões desenvolvidas no seio da cidade em torno desse processo. Em meio à emergência de uma festa dirigida
pela Fundação de Cultura, esse momento ocasionou um dos mais relevantes debates
em torno de uma prática para o carnaval da cidade. Entre os anos de 1980 e
1983, foi vivido no Recife o período da ‘despassarelização’ ou seja, a retirada
das passarelas como elemento integrante dos festejos momescos.
Era diante das
passarelas que as agremiações se apresentavam ao público e à comissão julgadora
do carnaval. O episódio da sua retirada provocou queixas da maioria dos
sambistas que acusavam a Fundação de Cultura ‘de um golpe duro no samba e nas
escolas de samba’. Segundo, os sambistas relataram em algumas matérias de
jornais: “trata-se de uma tentativa de minar o crescimento do samba na cidade,
em nome do frevo”.[20]
Os organizadores do carnaval justificaram a
retirada das passarelas como um fator necessário para que a “cidade do Recife
pudesse viver os dias de momo de outrora”. A capital pernambucana precisava se
reencontrar com o seu “verdadeiro carnaval”. E as passarelas representavam um
empecilho a esse processo. Os representantes da Fundação de Cultura da cidade
do Recife ─ órgão então responsável pela organização dos festejos momescos ─ entendiam
que a presença da passarela transformava os foliões em meros espectadores da folia,
pois dividia o público entre participantes (indivíduos que desfilavam com as agremiações)
e espectadores (sujeitos que estavam nas arquibancadas montadas junto às passarelas).
Inovações também foram propostas nesses anos
ao reinado de momo. Como foi o caso da introdução da ‘frevioca’[21] e
de concursos de música de frevo (SILVA, 2000). Essas novas questões tinham por
objetivo dar ao frevo um maior destaque, já que em anos anteriores outros
ritmos estavam ameaçando sua atratividade como cartão postal do carnaval em
Recife, como foi o caso do samba e do Axé[22]. É nesse momento também que o Clube de Máscaras
Galo da Madrugada emerge.
Acredito ser importante
compreender as condições históricas que tornaram possível essa agremiação
tornar-se um dos símbolos da folia de momo em Recife. Tenho sensibilidade de que
o desejo das autoridades municipais em ‘resgatar’ o carnaval de rua da cidade,
que segundo os jornais estava em decadência, possa estar relacionado ao sucesso
do próprio clube.
Essas considerações
iniciais são questões que buscarei analisar de forma mais detalhada durante o
doutorado que estou cursando junto a Universidade Federal Fluminense, no Rio de
Janeiro sob a orientação da professora Martha Abreu. Ao enunciar essas questões
busco afastar-se de visões preconcebidas sobre a festae compreender o processo
histórico da construção em que a folia de momo recifense estava imersa, como o
lugar do leito de conflitos e negociações, bem como também de mudanças e
permanências, onde grupos sociais distintos disputaram poder e espaços de
visibilidade de diferentes formas. Assim, procuro investigar e interpretar os
processos que levaram o Carnaval, a se transformar num dos cartões-postais da cultura
pernambucana como uma festa popular.
O caminho adotado pela análise faz da festa
carnavalesca uma excelente ocasião para visitar a cidade, conhecer suas tensões
e vislumbrar as estratégias e auto-imagem de suas habitantes. Ao se propor
investigar essas questões, é possível não só compreender o processo de (re)
construção do carnaval popular do Recife, bem como visualizar outras
fabricações possíveis a respeito da capital pernambucana, ultrapassando, assim,
os limites que cerceiam a maior parte das interpretações conhecidas sobre esta
cidade.
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publicado nos Anais do XXVII Simpósio Nacional de História. Conhecimento
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[1] Doutorando em
História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Mestre (2011) e
graduado (Licenciado - 2007; Bacharel - 2009) em história pela Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE).
[2] Retomo nesse artigo algumas das
questões apresentadas no projeto de doutorado à banca de seleção de Contemporânea
II, na Universidade Federal Fluminense; e Cultura e Memória na Universidade
Federal de Pernambuco.
[3] O termo popular
é extremamente controvertido. Já foi utilizado com objetivos e contextos
bastante variados, quase sempre envolvidos com juízos de valor, idealizações,
homogeneizações e disputas teóricas e políticas. Cf. ABREU, Martha. Cultura
popular: um conceito e várias histórias, In: Ensino de História: conceitos,
temáticas e metodologias. Martha Abreu e Rachel Soihet (Orgs). 2. ed. Rio de
Janeiro: Casa da Palavra, 2009. Sobre as problematizações em torno do termo
popular ver também: HALL, Stuart. Notas sobre a desconstrução do popular, In:
Da Diáspora. Identidades e Mediações Culturais. Belo Horizonte/ Brasília:
Ed.UFMG/UNESCO, 2003; CERTEAU, Michel. A beleza do morto, In: A cultura no
plural. Campinas, Papirus, 1995.
[4] Sobre isso ver
parte da historiografia sobre o tema do carnaval em Recife: LIMA, Cláudia.
Evoé: história do carnaval. Das tradições mitológicas ao trio elétrico. 2. ed.
Recife: Raízes Brasileiras, 2001; MAIOR, Mário Souto & SILVA, Leonardo
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Claudia Maria de Assis Rocha. Historia do carnaval: Viva Capiba no maior
carnaval do mundo. 1. ed. Recife: Inojasa, 1998.
[5] Para saber mais
sobre a ideia do popular atrelado a própria concepção do carnaval do Recife,
ver: ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. Festas: Máscaras do Tempo_ entrudo,
mascarada e frevo no carnaval do Recife. Recife, Fundação de Cultura da cidade
do Recife, 1996; SILVA, Lucas Victor. O carnaval na cadência dos sentidos: uma história sobre as representações
das folias do Recife entre 1910 e 1940. Tese (Doutorado em História). Recife:
Universidade Federal de Pernambuco, 2009.
[6] De acordo com o
antropólogo Hugo Menezes, o carnaval multicultural do Recife “é pretensamente
baseado no conceito de multiculturalidade, amparado em palavras-chave como
diversidade, participação, descentralização e tradição. Basicamente, a
estrutura festiva conta com polos estrategicamente espalhados pela cidade, com características
específicas que se refletem no quadro de suas atrações. O mais importante,
porém, é a força de seu discurso que, de tão insistente em suas palavras-chave,
extrapola o carnaval e rotula o Recife como Capital Multicultural do Brasil.”.
MENEZES NETO, Hugo. Tem samba na terra do frevo! a batalha frevo x samba no carnaval
multicultural do Recife. Revista: Textos escolhidos de cultura e arte
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p.
45-59, nov. 2010.
[7] Segundo Stuart
Hall, o termo multicultural é qualificativo, relacionado a peculiaridades
sociais e problemas de governabilidade em qualquer sociedade na qual convivem
diferentes comunidades culturais, enquanto o termo multiculturalismo é
substantivo, referindo- se a estratégias e políticas adotadas para governar ou
administrar problemas de diversidade gerados pelas sociedades multiculturais,
“O multiculturalismo refere-se a estratégias e políticas adotadas para governar
ou administrar problemas de diversidade e multiculturalidade gerados pelas sociedades
multiculturais. É normalmente utilizado no singular significando a filosofia específica
ou a doutrina que sustenta estratégias multiculturais”. HALL, Stuart. Da
Diáspora. Identidades e Mediações Culturais. Belo
Horizonte/
Brasília: Ed.UFMG/UNESCO, 2003, p. 52.
[8] Nelson Ferreira: velhos
carnavais (1), Jornal da Cidade, 12 a 18 de janeiro de 1975, p. 04. Nelson
Ferreira: velhos carnavais (2), Jornal da Cidade, 19 a 25 de janeiro de 1975,
p. 06. Em 75 um carnaval de música velha, Jornal da Cidade, 12 a 18 de janeiro
de 1975, p. 07. Eis o nosso carnaval, Jornal da Cidade, 29 de dezembro de 1974
a 05 de janeiro de 1975, p. 07. Um carnaval em declínio, Jornal da Cidade, 09 a
15 de fevereiro de 1975, p. 04. Frevo cede terreno para samba, Diario de
Pernambuco, 06 de dezembro de 1975, 1º caderno, p. 03; Frevo morre: amorfina-se
o povo pernambucano? Diario de Pernambuco, 26 de fevereiro de 1976, 2º caderno,
p. 05; Estado atual do frevo, Diario de Pernambuco, 29 de fevereiro de 1976, 2º
caderno, p. 12.
[9] Quando destaco
essa relação com a política na festa, estou me referindo aos momentos em que o
poder público municipal passou a intervir de forma direta nos festejos de momo.
Sobre isso destaco a criação da Federação Carnavalesca em 1935, que ficou a
cargo da organização dos festejos momescos da cidade até o ano de 1944 e a oficialização
pela Prefeitura da Cidade do carnaval em 1955/56, onde as agremiações
carnavalescas passaram a contar com uma verba dos cofres públicos para custear
parte das despesas com as suas apresentações durante os festejos de momo. Para
saber mais a respeito do período em que a Federação Carnavalesca Pernambucana organizou
os festejos momescos ver: VIDAL, Francisco Mateus Carvalho. A fresta do Estado
e o brinquedo para os populares: histórias da Federação Carnavalesca
Pernambucana. Dissertação (Mestrado em História). Recife: Universidade Federal
de Pernambuco, 2010. Já sobre a oficialização do carnaval pela Prefeitura da cidade
ver, especialmente o segundo capítulo: SILVA, A. N. Quem gosta de samba, bom
pernambucano não é?
(1955-1972)..
Dissertação (Mestrado em História). Recife: Universidade Federal de Pernambuco,
2011.
[10] Compartilho com as colocações de
Jean-François Sirinelli, quando destacou que os intelectuais de fato são por oficio,
“os detentores do sentido das palavras: eles as forjam e as transmitem, e por
isso mesmo se encontram nos dois lugares-chave da expressão cultural: a
formulação e a transmissão. Seu papel na gênese e na circulação tanto das
culturas políticas quanto de certos processos de memória constitui, pois, uma
realidade histórica inegável.”. SIRINELLI, Jean-François. Os Intelectuais do
final do século XX: abordagens históricas e configurações historiográficas, In:
Cultura política, memória e historiografia. (Orgs.). Cecília Azevedo.... [et al.].
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009, p. 47.
[11] O jornalista
Paulo Viana nasceu em 1922. Graduou-se em sociologia pela UFPE, mas dedicou
parte de sua vida ao exercício do jornalismo. Tinha fortes ligações com a
cultura negra e com o carnaval. Trabalhou em diversos jornais pernambucanos, a
exemplo do Diario da Noite, Jornal do Commercio, Diario de Pernambuco e
Jornal da Cidade. Faleceu no dia 30 de novembro de
1987. Tambores silenciam: morre o folclorista Paulo Viana, Diario de
Pernambuco, 01 de dezembro de 1987, p. A11
[12] É necessário
desoficializar, Jornal da Cidade, 16 a 22 de fevereiro de 1975, p. 10.
[13] De acordo com a
historiadora Déborah Callender nos anos de 1970, a política da EMPETUR estava
voltada à divulgação das várias práticas culturais populares do Estado por meio
de espetáculos públicos promovidos em diversos espaços de lazer da cidade. Era
a promoção do Espetáculo. Cf. FRANÇA, Déborah Gwendolyne
Callender.
Quem deu a ciranda a Lia: a história das mil e uma lias da Ciranda (1960 –
1980). Recife, UFPE: Dissertação de Mestrado em História, 2011, p. 83.
[14] 14 Para Guy Debord o espetáculo
é constituído por uma relação social entre pessoas, um processo que se constrói
mediado por imagens. Cf. DEBORD, Guy. A Sociedade do Espetáculo. Rio de
Janeiro: Contraponto, 1997.
[15] Recifense crer
na volta do carnaval participação. Diario de Pernambuco, 03 de janeiro de 1980,
p. A13.
[16] Tanto a nomenclatura ‘carnaval
espetáculo’, como ‘carnaval participação’, estão presentes nas matérias dos jornais
que circulavam pela capital pernambucana.
[17] Leonardo
Antônio Dantas Silva, nasceu em 1945, no Recife-PE. Formou-se em Direito, mas
desde cedo dedicou-se ao jornalismo trabalhando no Jornal do Commercio e Diario
de Pernambuco. É um dos mais importantes memorialistas sobre o carnaval do
Recife. Escreveu várias obras sobre a história da capital pernambucana, entre
elas: Recife: uma história de quatro séculos. Recife: Prefeitura do Recife -
SEC, 1975; O
frevo
pernambucano. Recife: FUNDAJ, Ed. Massangana. Centro de Estudos Folclóricos,
1990; Carnaval do Recife. Recife: Prefeitura da Cidade do Recife, Fundação de
Cultura Cidade do Recife, 2000.
[18] Fundação prepara-se para tríduo
de momo, Diario de Pernambuco, 03 de janeiro de 1980, p. A-13.
[19] As políticas públicas culturais
podem ser definidas como “o conjunto de ações dedeterminado Estado ou agente
político direcionadas à cultura”. (MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Desafios e
possibilidades na apropriação de cultura política pela historiografia, In:
Culturas Políticas na História. Novos Estudos. Belo Horizonte, MG: Argvmentvm,
2009, p. 25). Para saber mais sobre o tema das Políticas Culturais ver também:
URFALINO, Philippe. A História da Política Cultural, In: Jean-Pierre Rioux e
Jean-François Sirinelli. Para uma História Cultural. Lisboa: Editorial Estampa,
1998.
[20] Sambistas contra o projeto da
prefeitura, carnaval. Diario da Noite, 08 de janeiro de 1980, p. 05
[21]“Tratava-se de uma coisa simples,
uma orquestra de 32 músicos, montada em cima de um caminhão decorado coberta
por um teto de madeira (para dar a ressonância) e sonorizada através de dezoito
microfones”. Que diabo é a frevioca? Diario de Pernambuco, 24 de fevereiro de
1986 p. A7.
[22] Carnaval com frevo e samba é
melhor. Ziguezague, Última hora. 23 de fevereiro de 1964, p. 04, 2° caderno; Samba
está crescendo na capital quente do frevo. Diario da Noite, 03 de março de
1965, p. 11; Folião não dá bola para guerra samba – frevo e brinca à vontade.
Diario da Noite, 20 de janeiro de 1966, p. 02; São falsas as razões da “guerra
fria” contra o samba. Diario da Noite, 19 de janeiro de 1967, p. 06. Frevo
declara guerra a axé-music. Jornal do Brasil, 24 de dezembro de 1992, p. 27.
Disponível in:http://news.google.com/newspapers?nid=0qX8s2k1IRwC&dat=19921224&printsec=frontpage&hl=pt-BR
Acesso em 29/09/2012. Gosto musical não se impõe por decreto. Diario de
Pernambuco, 14 de janeiro de 1993, p. d1; Lei do frevo terá controle. Diario de
Pernambuco, 02 de fevereiro de 1993, p. b2; Procuradoria não quer a lei do
frevo em Olinda. Diario de Pernambuco, 05 de fevereiro de 1993, p. b2; Vereador
rebate críticas sobre lei que cria defesa para o frevo. Diario de Pernambuco,
10 de fevereiro de 1993, p. b2; Cai a lei do frevo. Diario de Pernambuco, 16 de
fevereiro de 1993, capa; ver também: TELES, José. O carnaval pernambucano
precisa ser reinventado. Suplemento Cultural, Recife: Diario Oficial, fevereiro
de 1995, p. 05.