Jornal O Século, 1880. |
Resumo: Tomando a doença como objeto de pesquisa e visando discutir a influência das pestes e epidemias nas práticas culturais, o presente artigo apresenta um estudo relativo às doenças e suas dimensões socioculturais. Nosso objetivo é investigar o surto de cólera que assolou a cidade de Porto Alegre (RS/Brasil), em fins de 1855, e suas consequências na forma da população celebrar o carnaval. A partir da análise de fontes como Relatórios dos Presidentes da Província, Código de Posturas Municipais, Termos de Vereança, além de jornais e fontes bibliográficas, indicamos que, embora a epidemia de cólera tenha exercido um grande impacto sobre as sensibilidades individuais e coletivas, parece não ter tido ancoragem no sistema de representação social, facilitando a manutenção de antigas formas de celebração do carnaval, após superado o trauma da experiência epidêmica.
Palavras-chave: epidemias, cólera, manifestações culturais, carnaval, entrudo.
Abstract: Taking the disease as a research object and aiming to discuss the influence of pests and epidemics on cultural practices, this article presents a study on diseases and their sociocultural dimensions. Our objective is to investigate the cholera outbreak that devastated the city of Porto Alegre (RS/Brazil) at the end of 1855, and its consequences on the way the population celebrates carnival. Based on the analysis of sources such as Reports of the Presidents of the Province, Code of Municipal Postures, Terms of Vereança, as well as newspapers and bibliographical sources, we indicate that, although the cholera epidemic has had a great impact on individual and collective sensibilities, it seems not having been anchored in the social representation system, facilitating the maintenance of old forms of carnival celebration, after overcoming the trauma of the epidemic experience.
Keywords: epidemics, cholera, cultural events, carnival, Shrovetide.
O mundo atual, marcado pela pandemia da Covid-19, provocou profundas transformações no modo de nos relacionarmos. O isolamento social, necessário para a contenção da propagação do coronavírus, promoveu uma readequação de espaços e lugares, restringindo nossa sociabilidade ao mundo virtual. Se por um lado o momento nos traz muitas incertezas; por outro, nos permite olhar para o passado, em busca dos impactos sociais também causados por outras pestes e epidemias. No século XIX, por exemplo, foi recorrente a disseminação de epidemias como a Peste Bubônica, a Febre Amarela, o Tifo e Cólera pelo mundo. Comuns em cidades portuárias, que possuíam grande circulação de pessoas, e poucos cuidados sanitários, essas doenças provocaram fugas e isolamentos como forma de proteção, afetando os modos de ser e conviver das populações (Balestro, 2017; Kodama; Pimenta, 2020).
O cólera, infecção intestinal aguda causada pela ingestão de Vibrio cholerae, uma bactéria presente na água e nos alimentos contaminados por fezes (Organização Mundial Da Saúde, 2011), surgiu na Índia, por volta de 500 a. C. No século XIX, contudo, atingiu uma escala mundial: China, Japão, Europa, América do Norte, alcançando a América do Sul, a partir da segunda metade daquela centúria (Lewinsohn, 2003). Em seu terceiro surto epidêmico, a pandemia foi registrada no Brasil pela primeira vez. A bordo da galera Deffensor, que saíra do Porto, em Portugal, com 304 colonos a serviço da Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas, a moléstia aportou em Belém do Pará. Em menos de um ano, se espalhou pelo restante do país, alcançando o extremo-sul do Império, antes mesmo de terminar o ano (Balestro, 2017).
Desta forma, neste trabalho buscaremos analisar as consequências do surto epidêmico de cólera nas práticas culturais, em especial, nas manifestações carnavalescas, em Porto Alegre(RS/Brasil), na segunda metade do século XIX. De que forma a epidemia de cólera modificou os costumes da população no que tange ao festejar o carnaval? Há de se ressaltar que, embora a epidemia de cólera tenha tido um alto impacto nos índices de mortalidade, ela é relativamente esquecida pela historiografia brasileira e pela população em geral, “sendo mais recordadas outras epidemias de igual importância, como a Gripe Espanhola de 1918/1919” (Balestro, 2017, p.11). Tomando a doença como objeto de pesquisa e visando discutir a influência das pestes e epidemias nas práticas culturais, apresentaremos um estudo relativo às doenças e suas dimensões socioculturais, a partir da análise de fontes como Relatórios dos Presidentes da Província, Código de Posturas Municipais, Termos de Vereança, além de jornais - A Reforma, O Mercantil, O Guayba – e fontes bibliográficas.
O campo da História da Saúde teve seu início ainda no século XIX. Uma história tradicional e enaltecedora, focada no destaque às biografias e às “permanentes e inevitáveis vitórias da medicina e da razão sobre a doença e sobre o obscurantismo” (Hochman; Armus, 2004, p. 13). Influenciado pela renovada no olhar dos historiadores e historiadoras, preocupados em compreender as representações de uma cultura em determinado lugar e época, a partir da década de 1960, houve uma ampliação neste campo de estudos, que voltou-se para a compreensão da vida social, política e cultural dos grupos humanos, a partir da ocorrência de enfermidades individuais e coletivas (Balestro, 2017; Witter, 2007).
Ao afetar o viver em sociedade, as doenças contagiosas, sobretudo as que acarretam em grande mortandade, alteram a dinâmica social e podem exercer um grande impacto sobre as sensibilidades individuais e coletivas[1]. Visível, sobretudo, no campo cultural, “o macabro se instala na literatura e na arte; propagam-se imagens trágicas, o tema do esqueleto, da dança macabra; a morte está em toda parte" (Duby, 1998, p.87). O prazer de levar uma vida em comum e de viver em companhia de outros, dá lugar ao medo de perecer em função da doença, afetando a forma de festejar dos grupos. É neste sentido que, a fim de discutir a experiência social da enfermidade em Porto Alegre e seu impacto sobre as sensibilidades individuais e coletivas, examinaremos as consequências do surto colérico nas práticas culturais da população, em especial, na forma de celebrar o carnaval.
1. Cólera em Porto alegre
Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, localizado ao extremo sul do Brasil, enfrentou um de seus maiores problemas de saúde coletiva, na segunda metade do século XIX. O cólera, que chegara ao norte do Brasil, no início de 1855, atingiria a cidade no final daquele ano.
O Presidente da Província, barão de Muritiba, em relatório com que entregou a presidência a Jerônimo Coelho, expressava a apreensão que marcou a chegada da moléstia à região, em novembro de 1855:“nessa época infeliz a epidemia da cólera asiática, que dizimara tantas vidas em certas províncias do Norte, e invadira a própria Corte, começou a introduzir-se na Província, sem embargo das medidas preventivas que pus em prática logo depois da minha posse” (Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1856a, p.9). Chegando a bordo do vapor Imperatriz, vindo do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, o “terrível flagelo” causou por toda parte “estragos consideráveis, cuja recordação é e será por muito tempo assaz dolorosa”. Embora tenha atingido intensamente outras cidades do Rio Grande do Sul, na “capital a epidemia tornou-se avassaladora” (Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1856a, p.9).
Em apenas dois meses, 10% da população porto-alegrense faleceu por conta da doença. Joaquina Maria da Conceição, mulher preta, de 66 anos, natural da província, foi a primeira vítima fatal, ocorrida em 30 de novembro de 1855 (Livro de Óbitos N° 2, 1855). Com o aumento no número das mortes nos dias seguintes, a Comissão de Higiene Pública[2]
[...] tentou organizar mapas de mortalidade por quarteirões, os quais seriam conjugados ao final da epidemia em um mapa geral. [...] recomendou a suspensão das aulas nas escolas públicas, das procissões e pediu que os dobres de sinos das Igrejas fossem terminantemente proibidos, por excitarem o medo e tornarem as pessoas predispostas aos ataques da epidemia. Também sugeriu que o Presidente ordenasse à Santa Casa de Misericórdia – mantenedora e administradora do cemitério extramuros – que recebesse os mortos da epidemia sem as formalidades de praxe e os enterrasse o mais rapidamente possível (Witter, 2007,p.82).
Nos meses que se seguiram, diversos mortos foram encontrados pelas ruas, não havia carroças suficientes para transportar os doentes, nem as vítimas fatais, tampouco um lugar para cuidar dos enfermos. As pessoas fugiam da cidade para evitar o contágio e nas ruas “eram queimados diversos tonéis de alcatrão como tentativa de espantar os ‘miasmas’ da doença” (Balestro, 2017, p. 57).
No Relatório do Presidente da Província, Jerônimo Francisco Coelho, sucessor do Barão de Muritiba, de 15 de dezembro de 1856 (1856b, p.167), foi apresentado uma estatística a respeito dos “óbitos da epidemia de Cholera-morbus que tiveram lugar nos dois distritos da cidade de Porto Alegre, capital da província de S. Pedro, durante os meses de Dezembro de 1855 e Janeiro de 1856”. Segundo o documento, houve 1742 óbitos: 947 homens e 795 mulheres. Entre as vítimas, 897 eram pessoas livres; e 845, escravizadas. Entre os libertos, as mulheres representavam 47% dos óbitos; enquanto entre as escravizadas foram 44%. Para se de ter uma noção do impacto da epidemia na cidade, Balestro (2017, p.60) destaca que o número de mortos na cidade era em média de 60 a 70 pessoas por mês, “número bem abaixo das mais de 1.000 pessoas que faleceram somente no mês de dezembro de 1855”.
Em 30 de abril de 1856, a Comissão de Higiene Pública declarou extinta a epidemia em Porto Alegre, mas a dolorosa experiência pandêmica marcaria a vida e a memória dos porto-alegrenses. Jerônimo Coelho, ao propor a organização de um regulamento de salubridade pública, a fim de prevenir novos surtos epidêmicos, afirmava que:
[...] das amargas lições da experiência, quantas vítimas sucumbem, podendo ter sido salvas, se não fora a confusão desordenada e própria das ocasiões de crise, e a falta absoluta de todo o sistema e método no emprego das medidas tendentes a combater uma epidemia em grande escala, principalmente quando chega ao ponto de sua máxima intensidade [...] (Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1856b, p.10).
Desta forma, a fim de traçar medidas preventivas para evitar o retorno da doença, levando-se em consideração a “entrada na estação calmosa e quente [...] e, especialmente pela falta de asseio e limpeza da cidade, em razão das imundícias, monturos e águas estagnadas, acumuladas em algumas praças, ruas, praias e quintais”, o Presidente da Província nomeou uma “comissão especial de 5 homens, composta do Sr. Chefe de Polícia, do presidente da câmara municipal, do da comissão de higiene, do chefe de seção de obras públicas, e de mais 1 facultativo” (Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1856b, p.9). Entre as medidas propostas pela comissão, estava a adoção de um sistema para regularizar o serviço de asseio e limpeza da cidade e a preparação de porções de roupas, medicamentos, utensílios e outros objetos para o pronto atendimento de “alguma nova invasão do mal epidêmico” (Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1856b, p.10). Também foram construídos paredões na rua do Poço (atual rua Jerônimo Coelho, em homenagem ao referido governante), abertos valos de esgotos e aterros nos terrenos adjacentes, a fim de fazer com que se desaparecesse o “cúmulo de imundícies, e de toda sorte de despejos, que com escândalo, e consentidamente se lançavam naquele ponto central da cidade a todas as horas do dia e da noite, e que por tantos anos constituíram um foco de infecção permanente e perigoso” (Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, 1856b, p.10). A falta de água potável era outro problema que também afetava a salubridade cidade, abrindo brechas para um novo surto e ainda para outros males. Desta forma, foram propostas algumas mediadas, como: a captação da água na nascente do Arroio do Sabão (atual Arroio Dilúvio), em Viamão, pois o local era considerado mais limpo do que as águas do rio Guaíba; a construção de bombas de água nas margens do rio; a instalação de oito chafarizes em diversos pontos da cidade; e a criação da Companhia Hidráulica Porto-Alegrense em 1862 (Balestro, 2017).
Embora algumas das propostas para melhoria sanitária tenham se convertido em Posturas Municipais, de acordo com Witter (2007, p.68), nenhuma das medidas “chegou a vigorar satisfatoriamente, visto as contínuas reclamações da Comissão ao Presidente da província e suas representações contra a falta de fiscalização da Câmara Municipal da capital para que o Código de Posturas fosse efetivado”. À vista disso, em março de 1867, haveria de ser registrado um novo surto de cólera na cidade. De menor impacto, mas com a capacidade de reavivar as lembranças da década anterior.
Tanto na Europa, quanto na América do Norte “o mal do Ganges” impactou profundamente o imaginário da população, “em função das imagens humilhantes suscitadas pela doença e a forma como esta feria as sensibilidades da época” (Witter, 2007, p.30). No Brasil e, em especial, em Porto Alegre, também se constituiu um imaginário de terror fundamentado no fato de que a doença “matava não somente metade daqueles que contaminava como também os matava em poucas horas e de maneira degradante” (Witter, 2007, p.31). É neste sentido que se faz importante averiguar os impactos dessa enfermidade sobre as sensibilidades individuais e coletivas. No caso de Porto Alegre, o trauma da experiência colérica foi capaz de modificar costumes arraigados nas práticas carnavalescas da população, como veremos a seguir.
2. O carnaval em Porto Alegre no século XIX
Porto Alegre começou a ser ocupada ainda na primeira metade do século XVII, mas seu processo de povoamento só teria início com a chegada de 60 casais açorianos, em 1752. Promovida pela Coroa portuguesa, a vinda dos “Casais D’El Rei” visava o povoamento da zona missioneira - região localizada no noroeste do Rio Grande do Sul, distante 500 km da capital - que cabia a Portugal, desde o Tratado de Madrid (1750) (Pesavento, 1991). Os casais açorianos ficariam vinte anos assentados em terras que pertenciam, primeiramente, à Jerônimo de Ornellas e, posteriormente, ao jovem açoriano Inácio Francisco de Melo. Em 1772, as terras da sesmaria foram desapropriadas e divididas em meias datas entre as famílias assentadas. Houve ainda a demarcação de lotes, ruas e estrada e iniciou-se a construção dos primeiros edifícios cívicos e religiosos, como a Igreja Matriz, criando-se a freguesia denominada de São Francisco dos Casais (Pesavento, 1991; Simanski, 1998). No ano seguinte, a freguesia passou a ser a sede da administração do governo provincial, sendo elevada à categoria de vila, com a denominação de Porto Alegre, em 1910 (Freitas, 2010).
Em sua bagagem, os casais açorianos também trouxeram a forma portuguesa de celebrar o carnaval: o jogo do entrudo. Caracterizado como intróito de quaresma, três dias que precediam os quarenta de preparação para a Páscoa, no entrudo o povo divertia-se molhando uns aos outros, atirando farinha e polvinho, empregando peças jocosas e banqueteando-se (Faria, 1861). De acordo com Flores (1999, p.152) “era uma verdadeira batalha para molhar alguém com água jogada de balde, bacia ou seringa, com arremesso de limão de cheiro. [...] homens e mulheres se empenhavam em loucas correrias e agarramentos, jogando água. Era um salve-se quem puder!”.
Apesar de ser largamente praticado, desde o início da colonização de Porto Alegre (FERREIRA, 1970), com o passar dos anos, o entrudo passou a ser severamente criticado. Em 1839, por exemplo, o jornal O Guayba (Porto alegre, 11 de janeiro de 1839, p.4), ao recriminar o jogo, bradava: “o veneno da saúde, o terrível sedutor da mocidade, o carrasco ordinário dos velhos, nunca terá a minha aprovação e dou a minha porção aos que só querem divertimentos mulheris e depois são reduzidos a se arrependerem (O Guayba, Porto alegre, 11 de janeiro de 1839, p.4).
As críticas à popular brincadeira destacavam tanto aspectos de ordem moral, em função dos excessos que seriam praticados durante o carnaval, quanto questões relativas ao prejuízo da saúde dos indivíduos. João Câncio Gomes[3], sob o pseudônimo de O Estudante, em Crônicas de Porto Alegre, complemento da edição dominical do jornal O Mercantil, demonstrava sua insatisfação com o início do festejo entrudesco: “[...] primeiro dia em que cada qual tem o direito de estragar a roupa da gente e, o que não é melhor, de estragar a saúde” (O Mercantil, Porto Alegre, fevereiro de 1852).
É interessante destacar que Porto Alegre passará por um considerável crescimento populacional nas primeiras décadas do século XIX, como é possível perceber na tabela abaixo:
Tabela 1 – População estimada de Porto Alegre (1780-1858).
POPULAÇÃO ESTIMADA DE PORTO ALEGRE | |
Ano |
Nº De Habitantes |
1780 |
1500 habitantes |
1803 |
3927 habitantes |
1808 |
6000 habitantes |
1820 |
12 000 habitantes |
1846 |
16 000 habitantes |
1850 |
24 000 habitantes |
1858 |
18 645 habitantes |
Embora se possa questionar a precisão desses dados para um levantamento populacional, ao observá-los podemos estimar um significativo aumento da população em Porto Alegre, que em 70 anos teria um crescimento de 1600%[4]. Conforme a população ia crescendo, novas demandas somavam-se às necessidades da vila. De acordo com Freitas (2010, p.5), a
[...]região que praticamente configurava-se como uma aldeia caracterizada por moradores que se fixavam em ranchos, datas, sítios e/ou demais pedaços de terras, foi adquirindo um novo cenário que, mesmo de maneira muito provinciana, já acenava para a urbanização e a modernização, que teriam seu ápice na segunda metade do século XIX e início do XX.
Neste sentido, é preciso observar o combate à brincadeira do entrudo neste processo de surgimento das cidades brasileiras no pós-independência. Do tranquilo povoado do século XVIII, Porto Alegre passara a uma cidade em crescimento, a cada dia mais agitada, “onde se estabeleciam negócios, compras, vendas e demais relações comerciais, legitimando sua posição como importante posto de trocas comerciais e centro de decisões administrativas da Província” (Freitas, 2010, p.5). A brincadeira carnavalesca já não era mais praticada somente entre famílias amigas e conhecidas, podendo ser fonte de desavenças e conflitos entre aqueles que não queriam “cair na folia” e aspiravam sinais de um novo tempo.
Com o objetivo de organizar a vida urbana e definir as regras de convivência, em 1829, foi elaborado o Código de Posturas Municipais de Porto Alegre. De acordo com Beatriz Weber (1992, p.8), formulados pelas autoridades locais, esses códigos serviriam para regular o dia a dia da população: um “conjunto de normas que estabeleciam regras de comportamento e convívio para uma determinada comunidade, demonstrando a preocupação com a preservação da ordem e a segurança pública, incluindo aí as relativas á saúde pública”. Há de se destacar que a salubridade era uma das alternativas de prevenção de epidemias e que a higiene das cidades, pressupunha uma questão disciplinar, pois a “disciplina promoveria a profilaxia do comportamento” (Silva, 1997, p.143).
Portanto, num primeiro momento, a ideia era disciplinar o espaço da rua. Neste sentido, no final de janeiro de 1832, a fim de regular a prática carnavalesca, os Termos de Vereança adotaram, “para ser incluído no Código de Posturas, um artigo proibindo o Entrudo aprovado na Câmara Municipal da Capital do Império” e, dias depois, enviaram “Editais ao Juiz de Paz da Cidade e Freguesias do Termo ordenando que se faça cumprir a nova Postura que proíbe o Entrudo” (Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, 1994a).
Em 1834, o Conselho Geral da Província, organismo deliberativo com competência administrativa, que antecedeu a Assembleia Legislativa provincial, recebeu dos termos de vereança o Edital de 1832, contendo as razões da proibição do Entrudo no município, e o acatou (Arquivo Histórico de Porto Alegre Moysés Vellinho, 1994b). Desta forma, foi estabelecido que:
Fica proibido o jogo do Entrudo dentro do Município: qualquer pessoa que o jogar, incorrerá na pena de dois mil reis á doze, e não tendo com que satisfazer, sofrerá de [dois] a oito dias de prisão: sendo escravo sofrerá oito dias de Cadeia, caso seu senhor o não mande castigar no Calabouço com cem açoites, devendo uns e outros infratores ser conduzidos pelas Rondas Policiais á presença dos Juízes de Paz para os julgarem á vista das partes, e testemunhas, que presenciarem a infração. As laranjas d’entrudo, que forem encontradas pelas Ruas, ou estradas serão inutilizadas pelos Encarregados das Rondas. Aos Fiscais com seus Guardas também fica pertencendo a execução desta Postura (Porto Alegre, 2013).
Por conseguinte, no próximo ano, os termos de vereança já tomavam providências para proibir o Entrudo na cidade (Arquivo Histórico De Porto Alegre Moysés Vellinho, 1994d). Contudo, mesmo com a interdição, o jogo das molhadelas continuava a ser largamente praticado. De acordo com Flores (1996, p.157), nem a ameaça de multa e de chicotes haveriam de esfriar os ânimos dos foliões. Refugiando-se em suas janelas, os brincantes mandavam “água e farinha nas patrulhas policiais. Os guardas voltaram ao quartel molhados e sem nenhum preso. A desgraça alheia, roupa molhada e penteado desfeito, provocavam gargalhadas e ditos graciosos”.
Em setembro de 1835, iniciava um dos principais conflitos armados que marcariam a história e a historiografia da região, a Revolução Farroupilha[5]. A fim depor o Presidente da província Antônio Rodrigues Braga, os revoltosos atacaram a capital, Porto Alegre. A resistência ao cerco farroupilha valeu à cidade o título de “mui leal e valorosa”, ao mesmo tempo em que trouxe problemas no que tange à salubridade pública, em função da concentração da população sitiada (Pesavento, 1991). De acordo com Flores (1996, p.195), nem mesmo durante a Revolução Farroupilha, com o cerco da cidade entre 1836 e 1839, a população deixou de jogar o entrudo.
A permanência do costume carnavalesco é constatada nas palavras de João Câncio Gomes que, ao retratar os acontecimentos locais, no ano de 1852, destacava:
[...] chegando o tempo do entrudo, acabam as cerimônias; em lugar da barretada o indivíduo olha para a individua e zás... E lá vai essa meia livra de água, dentro de um limão de cera, lavar-lhe a cara. As meninas fazem o mesmo: todo o ano com um abaixar da cabeça muito sisudo correspondem aos cumprimentos, no entrudo, é com outro limão de cheiro, ou com uma caneca de água sem cheiro, que mostram a sua benevolência (O Mercantil, Crônicas de Porto alegre, Porto Alegre, fevereiro de 1852,p.50).
Entretanto, a epidemia de cólera que se alastrava pelo mundo e chegara também à porção meridional do Brasil, haveria de modificar esse cenário. Com o cólera matando em torno de 1000 pessoas por mês na cidade, nenhum folião ou foliona se atreveu a jogar o limão de cheiro ou canecas e baldes d’água, naquele carnaval de 1856. Há de ressaltar que o acesso à água potável era um dos problemas de salubridade pública da cidade. As águas do rio Guaíba serviam de fonte direta para o consumo da população, mas nele também se costumava lavar as vestimentas, inclusive de enfermos, e proceder o descarte do lixo (Balestro, 2017). A água contaminada foi, provavelmente, uma das causas da proliferação da doença.
No ano seguinte, sob o pseudônimo de O Freguês, Pedro Antônio de Miranda[6], anunciava a chegada do carnaval. Na coluna Revista, do jornal O Guayba[7], o escritor fazia uma resenha cômica dos eventos da cidade e pedia que a população preparasse “flores e doces, máscaras e carros” para a folia: “quero ver as meninas à janela sem medo dos imprudentes limões [...], o divertimento aguado fica abolido no código do bom tom, [...]brinquemos sem molestar o corpo e o juízo, que eu respondo por vós”, escrevia ele (O Guayba, Porto Alegre, 25 de janeiro de 1857, p. 37).
Nada de novo havia no pedido de O Freguês, há anos a brincadeira era condenada. Já proibida no Código de Posturas Municipais, deveria também ser extinta das normas de bom procedimento, de um comportamento socialmente correto e bem-educado. Desta vez, contudo, o pedido da imprensa haveria de ser atendido e, no mês seguinte, O Freguês finalmente pode anunciar que “desapareceu o limão antidiluviano, cessaram os batizados públicos, sucederam-lhe as máscaras ainda em pequeno número, mas sempre assaz para indicar as futuras alegrias, lembrando-se que a criança virá a crescer” (O Guayba, Porto Alegre, 22 de fevereiro de 1857, p. 69).
Reformador de costumes, o medo do cólera foi capaz de fazer com que a população deixasse de jogar o entrudo. Em seu lugar, houve “bailes masqués no - Café da Fama - e foram bem concorridos tanto por famílias, como por máscaras, entre as quais algumas se distinguiam pelo incansável humor com que desempenharam seus papeis de ocasião” (O Guayba, Porto Alegre, 22 de fevereiro de 1857, p. 69). O Carnaval à moderna, como chamava O Freguês, era uma alternativa ao antigo entrudo. Note-se que no Rio de Janeiro, capital do império, em 1855, foi fundado o primeiro clube carnavalesco – o Congresso das Sumidades Carnavalescas, representando “o choque entre a Desordem do Entrudo e a dignificação da folia, explicitada pela venezificação do carnaval carioca” (Alvares, 2014, p.17). Concebido para ser um festejo civilizado e civilizador, o carnaval veneziano correspondia às aspirações de modernidade almejadas para o futuro da nação; enquanto o entrudo era caracterizado como uma bárbara tradição. A “civilização dos costumes” incluiria, assim, o abandono de práticas consideradas insalubres, como o velho jogo das molhadelas.
A preocupação com um novo surto epidêmico era constante, tanto que eram traçadas medidas preventivas, como vimos anteriormente. Embora não tenha sido registrado casos de cólera, entre junho de 1856 e março de 1867, temores sobre um possível retorno da doença alarmavam as autoridades e qualquer questão poderia ser vista como uma ameaça (Balestro, 2017). De acordo com Witter (2007, p.265),
[...] o impacto emocional de uma epidemia (tanto quanto seus números de obituário) pode gerar debates, ações e até mesmo modificações mais, ou menos, sutis em uma sociedade. Seu poder principal é o de trazer à tona problemas, males e questões que já existem no universo atacado. As epidemias os tornam mais visíveis, os aprofundam, os revalorizam diante dos olhos dos seus contemporâneos. Cada sociedade reagirá a este impacto de acordo com suas especificidades, sua história e o contexto tecnológico, moral e político em que vive.
Como vimos, a brincadeira do entrudo já era há muito tempo condenada, vista por uma parcela da população como um mal a ser extinto. A partir da experiência epidêmica do cólera e de seus efeitos sobre as sensibilidades individuais e coletivas, potencializou-se o “problema do entrudo”, enquanto ameaça à salubridade pública. Neste sentido, mudar a forma de festejar o carnaval - bailes de máscara ao invés do jogo das molhadelas – pode ser entendida como uma reação da coletividade frente às calamidades despertadas pelo “terrível flagelo”, uma ação preventiva que partiu, não do poder público, mas da própria população, em consequência do trauma da primeira grande epidemia vivenciada na cidade. Nem leis, multas ou castigos, tampouco a guerra, foi capaz de conseguir o que o cólera efetivou. De acordo com Nascimento et al (2018, p.410), “quando incurável e mortal, a doença tende a assumir uma forte carga simbólica no imaginário coletivo, entrelaçada psicossocialmente ao agir humano”. Deste modo, vê-se que o medo da doença fez com que a população modificasse suas práticas culturais, transformando sua maneira de celebrar o carnaval.
Em 1867, uma segunda epidemia de cólera atingiu a cidade. Desta vez, contudo, a mortalidade registrada foi muito menor do que a anterior, perecendo 0,7% da população em função da doença (Witter, 2007). A baixa intensidade do novo surto talvez tenha contribuído para que a população pudesse dar uma nova significação para a experiência epidêmica, permitindo-se reviver antigos costumes. Assim, o entrudo, que parecia ter sido abolido das práticas carnavalescas de Porto Alegre, haveria de ressurgir no carnaval de 1869: “jogou-se muito o entrudo que desde 1855 estava abolido, tanto que já não eram suficientes os limões, serviam bacias, jarros, canjirões, copos e canecas grandes, seringas que levavam uma medida d’água”, noticiava o jornal Arcadia.
À vista disso, podemos observar que embora tenha causado um grande impacto sobre as sensibilidades da época, fazendo com que a população se abstivesse da brincadeira por mais de uma década, a experiência do cólera em Porto Alegre parece não ter tido ancoragem no sistema de representação social. De acordo com Nascimento (2014), a representação social da doença pode ser entendida como “um conjunto de imagens, sentimentos, configurações plásticas ou literárias, bem como valorações, pelo qual, apesar de seus diferentes modos de manifestação, doenças específicas vêm sendo ao longo do tempo representadas nas mentalidades coletivas”. Uma vez constituídas, essas representações coletivas moldam as condutas sociais e morais (Nascimento et al, 2018). Embora o primeiro surto de cólera tenha despertado o medo da população, fazendo com que buscasse ações preventivas ao flagelo, ao que tudo indica, não houve um enraizamento social da representação da peste, nem sua integração cognitiva ao sistema de pensamento preexistente e às transformações decorrentes (SEGA, 2000). Isso pode ter facilitado o ressurgimento do entrudo, após superado o trauma da primeira epidemia. Afinal, como destacam Nascimento et al (2018, p.42), “em cada contexto epidêmico, os costumes e regras sociais influenciavam a elaboração das diferentes respostas às doenças e na experiência do adoecimento”.
Isto não significa dizer que, com a volta da velha brincadeira, a imprensa não tenha utilizado argumentos que lhe atribuíam um caráter de ameaça à saúde pública, recorrendo ao discurso sanitário como forma de amedontar as folionas: ”[...] Não é, porém digno das humanas filhas do Rio Grande, num tempo em que o tifo, a febre e a tísica dizimam a população, ensopar d’água os que transitam nas ruas banhados em suor?” (A Reforma, 15 de fevereiro de 1871. Apud: Ferreira, 1970, p.19). Com vistas à abolição do entrudo e disciplinarização das ruas, utilizava-se a dimensão biológica dos corpos como argumento diferenciador e regulamentador do comportamento:
[...] ainda menos conveniente se pode dizer que é este jogo para as damas, pois a sua natureza, em certas ocasiões, tem exigências que não se dão bem com água fria, e mais de uma donzela robusta e viçosa tem deixado de ver o carnaval seguinte por haver sido arrebatada pela tísica, provocadas pelas águas aromáticas do limão (A Reforma, 15 de fevereiro de 1871. Apud Ferreira, 1970, p. 18).
Vale lembrar que, no que tange ao cólera, os homens foram as maiores vítimas da doença, tanto entre escravos, quanto livres, perfazendo 54% das mortes em Porto Alegre entre os meses de dezembro de 1855 e janeiro de 1856. O jornal A Reforma, contudo, reforça seu argumento sanitário alegando maior fragilidade do corpo feminino frente a algumas doenças. Ao condenar veementemente o retorno do jogo, o periódico defendia a implantação de uma nova forma de se brincar o carnaval, mais “moderna” e “civilizada” – aos moldes do que já havia sido proposto no Rio de Janeiro com o Congresso das Sumidades Carnavalescas –, trazendo para Porto Alegre o sonhado requinte do carnaval veneziano.
Isto posto, podemos perceber, como afirmam Hochman e Armus (2004, p. 17), o quanto o “processo saúde-doença diz respeito não apenas à salubridade ou insalubridade de nossos países, mas é revelador, constituinte e formador de aspectos cruciais da modernidade e da história social, política, intelectual e cultural latinoamericana”.
3. Considerações Finais
Ao se tornarem objetos de estudo da História, as doenças e enfermidades, mais especialmente as epidemias, como acontecimentos coletivos que alteram a dinâmica social, nos permitem buscar entender o universo mental – os modos de ser, as maneiras de pensar, as crenças que caracterizariam os indivíduos e/ou a coletividades de determinada uma época. Neste sentido, vimos que, embora o jogo do entrudo fosse proibido por lei e criticado pela imprensa, foi somente a experiência traumática da epidemia de cólera que conseguiu arrefecer os ânimos dos foliões e folionas porto-alegrenses, fazendo com que a população abdicasse de sua tradicional forma de celebração do carnaval.
O abandono da prática do entrudo nos anos que se seguiram não deixou de ser uma resposta coletiva de enfrentamento à doença. Ao impactar as sensibilidades individuais e coletivas, o medo da doença modificou costumes arraigados nas práticas carnavalescas da população, por quase quinze anos. Contudo, ao ser atingida por um novo surto epidêmico, a baixa intensidade no número de mortos, parece ter aplacado a forte carga simbólica da epidemia anterior.
Apesar de ter causado um grande impacto na sociedade porto-alegrense, o cólera e a experiência epidêmica não foi capaz de transformar as mentalidades de uma época no que tange ao festejar. No embate pela disciplinarização das ruas, pela civilização dos costumes, em busca de cidades salubres, representantes do progresso e da modernidade, novas formas de celebração do carnaval foram propostas. Contudo, o entrudo, enquanto uma herança cultural, parecia estar enraizado nos modos de festejar da população e retornaria, após superada a traumática experiência epidêmica. Nem o cólera haveria de enterrá-lo para sempre!
Referências
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[1] Há de se destacar ainda o decréscimo populacional, verificado a partir da década de 1850, muito provavelmente em função da epidemia de cólera (Weber, 1992).
[2] De acordo com Pesavento (2014, p.10), a Revolução Farroupilha foi uma “rebelião dos senhores de terra e gado gaúcho contra a dominação que a oligarquia do centro do país, beneficiária da independência, buscava impor sobre as províncias da jovem monarquia brasileira”. O conflito perdurou por dez anos e ameaçou a unidade do Império.
[3] Pedro Antônio de Miranda nasceu em Porto Alegre, em 14 de novembro de 1843. Foi colaborador do jornal O Guayba, entre seus 13 e 14 anos, onde mantinha a columa “Revista”. Diplomado professor pela Escola Normal da capital, foi professor primário em Santa Maria e São Borja e fundador e diretor de uma escola primária em Itaqui, todas cidades do interior do Rio Grande do Sul. Foi, ainda, advogado provisionado em Porto Alegre e Uruguaiana, tabelião em Pelotas e Itaqui. Sua atuação jornalística teve lugar na capital e em Pelotas. Publicou críticas, crônicas, poemas, poemas em prosa, quadras humorísticas e almanaques.
[4] O jornal O Guayba, primeiro periódico literário do Rio Grande do Sul, foi lançado no dia 03 de agosto de 1856 e circulou até 26 de dezembro de 1858. Era impresso nas oficinas da Tipografia Brasileira-Alemã. Seus redatores eram Carlos Jansen, editor e também proprietário da Tipografia, e João Vespúcio de Abreu e Silva. Criando um modelo de imprensa literária no estado, deu espaço para as ideias dos principais representantes da primeira geração romântica local e nomes promissores da época, como: Félix da Cunha, Miguel Meirelles, Rita Barem de Melo, Zeferino Vieira Rodrigues Filho, João Capistrano Filho, Catão Damasceno Ferreira, Eudoro Berlink e Furtado Coelho, entre muitos outros (Strelow, 2016).
[5] De acordo com Pesavento (2014, p.10), a Revolução Farroupilha foi uma “rebelião dos senhores de terra e gado gaúcho contra a dominação que a oligarquia do centro do país, beneficiária da independência, buscava impor sobre as províncias da jovem monarquia brasileira”. O conflito perdurou por dez anos e ameaçou a unidade do Império.
[6] Pedro Antônio de Miranda nasceu em Porto Alegre, em 14 de novembro de 1843. Foi colaborador do jornal O Guayba, entre seus 13 e 14 anos, onde mantinha a columa “Revista”. Diplomado professor pela Escola Normal da capital, foi professor primário em Santa Maria e São Borja e fundador e diretor de uma escola primária em Itaqui, todas cidades do interior do Rio Grande do Sul. Foi, ainda, advogado provisionado em Porto Alegre e Uruguaiana, tabelião em Pelotas e Itaqui. Sua atuação jornalística teve lugar na capital e em Pelotas. Publicou críticas, crônicas, poemas, poemas em prosa, quadras humorísticas e almanaques.
[7]O jornal O Guayba, primeiro periódico literário do Rio Grande do Sul, foi lançado no dia 03 de agosto de 1856 e circulou até 26 de dezembro de 1858. Era impresso nas oficinas da Tipografia Brasileira-Alemã. Seus redatores eram Carlos Jansen, editor e também proprietário da Tipografia, e João Vespúcio de Abreu e Silva. Criando um modelo de imprensa literária no estado, deu espaço para as ideias dos principais representantes da primeira geração romântica local e nomes promissores da época, como: Félix da Cunha, Miguel Meirelles, Rita Barem de Melo, Zeferino Vieira Rodrigues Filho, João Capistrano Filho, Catão Damasceno Ferreira, Eudoro Berlink e Furtado Coelho, entre muitos outros (Strelow, 2016).
Artigo publicado originalmente em PINHEIRO, Joaquim; MATEUS, Samuel; FRANCO, Mario (Org.). Pestes e Epidemias: Estudos Interdisciplinares em Humanidades. Ribeirão/V.N. Famalicão: Edições HÚMUS, 2022.