Mangueira, Salgueiro e Portela: três visões sobre Getúlio Vargas
Getúlio Vargas. Crédito: Getty Images |
Três das escolas mais tradicionais do Rio decidiram olhar para o político mais emblemático do Sul — Getúlio Vargas (1882 – 1954).
A Mangueira, já em 1956, fez um enredo sobre o ex-presidente poucos anos após seu suicídio. Era uma abordagem respeitosa, solene, quase como se a avenida virasse um velório simbólico. A ditadura de Getúlio ainda era recente, mas o samba optou por olhar o legado como reformador trabalhista. O samba, uma obra-prima. E uma verdadeira aula de história em 25 linhas.
No ano de 1883No dia 19 de abrilNascia Getúlio Dorneles VargasQue mais tarde seria o governo do nosso BrasilEle foi eleito deputadoPara defender as causas do nosso paísE na revolução de 30 ele aqui chegavaComo substituto de Washington Luiz(Padeirinho – 1956)
Quase 30 anos após a verde e rosa, a história de Getúlio Vargas virou samba também na Acadêmicos do Salgueiro, com o enredo “Anos Trinta, Vento Sul – Vargas”. Os carnavalescos Edmundo Braga e Paulino Espírito Santo transformaram a vida do estadista em um poema épico medieval, exaltando das tradições gaúchas do caudilho à criação da Petrobrás.
A plástica estava impecável, mas a crítica do salgueirense Fernando Pamplona – ex-carnavalesco da escola – ecoou: “o Salgueiro, que sempre cantou a liberdade, homenageia um ditador fascista?”, questionou ele durante a transmissão do desfile pela TV Manchete, sentindo cheiro de “puxação de saco” ao então governador do Rio, o também gaúcho Leonel Brizola.
Soprando forte do SulUm ciclone feiticeiroVenta pelos anos trintaE traz Vargas, o mago justiceiroVeio cumprir nobre missãoE mudar o destino da nossa nação(Bala, Jorge Melodia e Jorge Moreira – 1985)
No carnaval temático de 2000 (em homenagem aos 500 anos do Descobrimento do Brasil), a Portela, última a se apresentar no primeiro dia de desfile, levou novamente o personagem Getúlio Vargas para a Sapucaí. Com o enredo “Trabalhadores do Brasil – A Época de Getúlio Vargas”, o carnavalesco José Félix optou por não fazer uma biografia do político, mas sim um mergulho histórico na Era Vargas (1930 – 1945). A escola celebrou a época, seguindo a historiografia oficial e mostrando a força de um tempo que marcou o Brasil.
Aclamado pelo povo, o "Estado Novo"Getúlio Vargas anunciouA despeito da censuraNão existe mal sem curaViva o trabalhador ô ô ô(Amilton Damião, Ailton Damião, Edynel, Zezé do Pandeiro e Edinho Leal - 2000)